Porque, do ponto de vista da alimentação humana, a única semelhança entre a alface e o capim é que são verdes. A alface tem de 3% a 5% de fibras, enquanto o capim braquiária (Brachiaria decumbens Stapf.), usado na forragem de boi, chega a ter mais de 90%. Aí é fibra demais para nós, que não conseguimos digerir celulose.
De modo geral, a ingestão de qualquer folha como fonte de nutrientes encontra dois grandes empecilhos: muitas espécies são tóxicas e, se não forem, nem sempre seus nutrientes ficam disponíveis para o organismo usar. É que o metabolismo das plantas produz, em maior ou menor quantidade, substâncias que impedem seus nutrientes de ser bem aproveitados por seus predadores. É o caso dos inibidores das proteases – que atacam as enzimas responsáveis pela aceleração da quebra de proteínas na digestão – e dos fitatos, que diminuem a absorção de minerais essenciais.
Para se proteger de pragas e predadores, certas folhas também usam armas químicas. Os taninos e as saponinas, presentes nas folhas da árvore dama-da-noite, por exemplo, são substâncias amargas e tóxicas. Sua ingestão pode levar a náuseas e vômitos, seguidos de agitação psicomotora, distúrbios comportamentais e alucinações. Já as antivitaminas, outra dessas armas, impedem a função normal de uma determinada vitamina no organismo. Isso sem falar dos alcaloides – famosas substâncias em geral terminadas em “ina”, como cafeína, cocaína, nicotina, morfina – algumas mais e outras menos tóxicas.
Há ainda as armas mais intragáveis, as físicas. Certas plantas têm folhas com pelos e bordos serrilhados, que podem ferir ou irritar a mucosa bucal humana. Enfim, é bom agradecer seus antepassados. Foram eles que fizeram todos esses testes para que você soubesse que alface e agrião são seus amigos – e os outros, não.